Encontrar uma atividade que traga prazer pode ajudar a sair do sedentarismo - e a não desistir no caminho
Publicado no Caderno Bem Estar do Estadão
🤸🏼♀️ A ideia de experimentar o trapézio voador, assim como os acontecimentos mais significativos e marcantes da minha vida, surgiu "do nada". Sabe o famoso nada? Quando você está sentindo, se muito, uma estagnação? Aquela coisa interna difícil de nomear, um vazio que te ocupa e te preenche de incômodo. A perda de sentidos, a falta do sentir. Os que me conhecem, sabem: gosto de viver com emoção. Aliás, mais do que gosto, não tenho escolha, pois sou uma pessoa MUITO emotiva... o que pode me lançar até a mais longínqua das estrelas e me fazer cair no mais profundo dos poços. E as quedas, meu bem, estas são inevitáveis! "Aprenda a se levantar", eles dizem. Levantar-se é fácil, difícil é aprender a cair... Isto, sim, é coragem. E é aí que entra o trapézio voador na minha história e as lições que ele me trouxe. É sobre o movimento de se lançar para a vida, apesar do medo (ou pânico, talvez terror, quem sabe até pavor) e da insegurança. É preciso ter desejo de se soltar, de sair da gaiola que te prende e voar. É sobre sentir (e curtir) o timing inevitável da vida e não resistir à passagem do tempo. Os minutos correm, quer você queira, quer não. Se você não aproveitar o impulso, vai perdendo força e a dinâmica do seu movimento fica cada vez mais lenta, pesada e difícil. É sobre ter flexibilidade e confiar. Confiar em si mesmo, na sua força. Confiar no processo como um todo, no fluxo natural e em qualquer aparato de segurança que você tenha na sua vida. É sobre entender que a voz de comando mais importante é a sua voz interna, e aprender a ouvi-la. É sobre se apropriar, valorizar e gostar da SUA atuação, com o SEU desempenho particular: o ritmo, a velocidade, vontade, leveza, fluidez, beleza que te fazem ser quem você é. E, por último, é sobre aprender a cair. E, por que não, talvez até mesmo aproveitar a queda? Porque a vida muitas vezes assusta e o mundo vai, sim, ficar de ponta cabeça. Mas, se vamos perder o chão, que seja do nosso próprio jeito. 🍃
Confia em mim
Há cinco anos, quando comecei a fazer aulas de circo, não conhecia a variedade de aparelhos, e modalidades, e atividades, e estilos que fazem parte desse vasto universo. No decorrer desse período, já me pendurei em tecidos, liras, cordas; já dei mortais em camas elásticas, colchões, fossos; e já me lancei nas mãos de outros seres humanos a seis metros do chão em um trapézio de voos. Recentemente, nesta última modalidade, comecei a treinar um truque que envolve dar um balanço completo no trapézio – um swing –, virar um moral e meio no ar e entregar as pernas ao trapezista de ponta cabeça no outro trapézio – o catcher. Tudo é feito com muita segurança: há, é claro, uma rede logo abaixo e uma corda presa à minha cintura, controlada por um instrutor – o lonjeiro. Mas isso não muda o fato de que, durante o treino – feito sem o catcher –, ao terminar o movimento, estou mergulhando de cabeça em direção a rede, à mercê das habilidades do lonjeiro, em quem eu invariavelmente preciso confiar.
Todas as atividades circenses, aliás, envolvem confiar em alguém: seja no seu parceiro de truque que te segura com os pés, seja na professora que diz “pode soltar, a trava está certa” na hora de uma queda de três metros no tecido. Mas essas são pessoas em quem escolhemos confiar. Na vida fora do circo, porém, nem sempre é exatamente assim.
O segundo que antecede o nosso "se jogar" é de pura concentração. Olhar fixo no portô e ouvidos atentos para deixar a plataforma no tempo exato. Tempo. Não seria ele o grande mestre? Dos ares do trapézio e da vida? O tempo que não temos, que desperdiçamos com aquilo que não nos preenche, que subutilizamos com tanto interesse pela vida alheia. O tempo que cura. O que passa tão veloz que mal nos damos conta. O que enche a vida de sentido quando passado junto daqueles que amamos. Assim como na vida, no trapézio de voos o tempo é o grande protagonista. E é o tempo do agora, da atenção plena, do foco total. Tempo para encontrar sua coragem, exorcizar seus medos e praticar a arte da confiança. Tempo para o encontro desejado e perfeito das mãos do volante e do portô. @trapeziovoador obrigada por ser um dos lugares onde melhor uso esse presente que chamamos de tempo. 🎪❤️